O Filme da Minha Vida


O Filme da Minha Vida
Brasil 2017 - 113'

Direção: Selton Mello
Roteiro: ‎Selton Mello e Marcelo Vindicatto
Elenco: Johnny Massaro, Bruna Linzmeyer, Vincent Cassel, Selton Mello, Bia Arantes, Ondina Clais Castilho, Martha Nowill, João Prates, Antonio Skármeta, Rolando Boldrin.

Sinopse: O jovem Tony decide retornar a Remanso, Serra Gaúcha, sua cidade natal. Ao chegar, ele descobre que Nicolas, seu pai, voltou para França alegando sentir falta dos amigos e do país de origem. Tony acaba tornando-se professor, e vê-se em meio aos conflitos e inexperiências juvenis. 


Depois de dois bons longas e especialmente da série "Sessão de Terapia", Selton Mello parece ter encontrado sua voz como diretor. Uma voz doce, carregada de nostalgia e da sensibilidade de quem entende muito bem o que se passa no íntimo de suas personagens. Mas também é a voz de um artesão rigoroso, caprichoso em cada detalhe.

Nesta excepcional adaptação do livro "Um pai de cinema', do chileno Antonio Skármeta - também autor de "O Carteiro e o Poeta" -, o trabalho de roteiro é primoroso. Bem dividido em atos, guarda uma série de viradas de trama, alívios cômicos e, principalmente, emoção potencializada. 
É um filme denso, onde não há um único plano sobrando. Cada cena foi cuidadosamente desenhada para significar mais do que parece à primeira vista. Detalhes como a bicicleta do filho estacionada à frente da motocicleta do pai; a fusão do filme assistido no cinema com o rosto do ator ou a fumaça que envolve o maquinista - uma participação quase sobrenatural de Rolando Boldrim... são alguns dos inúmeros os fragmentos que compõem o quadro complexo pintado pelo diretor. Mas apesar de todo rigor estético, ainda nota-se alguma margem para improviso em algumas sequências, o que ajuda a oxigenar a tela. 

Cada item da produção traz o melhor que se poderia desejar para contar uma boa história: a direção de arte, os figurinos, as locações sulistas, a pós produção, a edição, a trilha sonora original, as belas canções, o desenho de som, são todos trabalhos excepcionais. Mas deve-se louvar a fotografia de Walter Carvalho, um capítulo à parte, com sua paleta de cores frias, ora oníricas, ora fantasmagóricas, mas inquestionavelmente belas.

O elenco é outro destaque. Johnny Massaro consegue imprimir brilhantemente a evolução da maturidade do protagonista que se vê como coadjuvante de sua própria história, ele vai do ingênuo professor quase adolescente ao adulto bem resolvido apenas com o olhar. O francês Vincente Cassel - um dos grandes atores do cinema mundial - traz uma melancolia dolorida, mas altiva na ação presente e uma alegria paternal nos flashbacks. Selton Mello se sai bem como o moleiro grosseirão, portador das melhores frases do filme, como: 'não quero ter filho porque gosto de dormir e casar também não quero, porque gosto de acasalar'. E as mulheres do filme não ficam atrás: Ondina Clais, Bia Arantes e Bruna Linzmeyer criaram personagens complexas, cheias de camadas, que nem sempre desvelamos. 

Selton Mello tem a cara do cinema nacional sem pobrismo, sem coitadismo, sem militância. Traz uma mensagem carinhosa e otimista com seu filme, que nos faz deixar a sala com um sorriso no rosto e no coração.


Data de lançamento: 3 de agosto de 2017

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